No último domingo, as eleições legislativas ocorreram em Portugal. Em uma campanha marcada pelo debate sobre os rumos do país frente a política de austeridade e privatizações do governo de PSD/CDS, a coligação desses partidos, "Portugal à Frente", não obteve a maioria absoluta das cadeiras no parlamento.
A grande vitória das eleições de domingo foi do Bloco de Esquerda. O partido, que defendeu na campanha a reestruturação da dívida, o fim do ataque as pensões, aos aposentados e ao serviços públicos, rompendo com a política de austeridade, obteve o melhor resultado de sua história, ampliando sua bancada de 08 para 19 deputados na Assembleia da República.
O resultado das eleições consagrou o Bloco como o terceiro partido com mais cadeiras na AR, atrás apenas do Partido Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD). A CDU, coligação que une o Partido Comunista Português (PCP) e os ecologistas do PEV, conseguiu mais um parlamentar para sua bancada, consolidando o aumento das forças políticas à esquerda do PS.
Catarina Martins liderou o Bloco nas eleições legislativas |
A porta-voz do Bloco de Esquerda, em discurso na noite eleitoral, avaliou o resultado do processo, assegurando aos eleitores que o partido cumprirá o mandato que lhe foi dado: defender salários, pensões e colocar-se contra a privatização dos servições essenciais portugueses. Assinalando que o Bloco agora está mais forte, Catarina também ressaltou que não será com os votos do Bloco de Esquerda que a coligação da direita, tendo perdido a maioria absoluta, conseguirá formar um governo, posição também anunciada pelos comunistas e verdes da CDU.
A realidade portuguesa e o resultado das eleições
As eleições de domingo em Portugal ocorrem após 4 anos de governo da direita. Seguindo a risca os ditames da Troika em um dos países mais afetados pela crise das dívidas na zona do euro, o governo à serviço dos bancos converteu a crise econômica em uma grave crise social.
Em Portugal hoje, uma em cada 3 crianças é pobre, a flexibilização do trabalho através de estágios e contratos frágeis tornou-se regra para mascarar o desemprego, sobretudo da juventude, que viu-se forçada neste contexto a sair do país. Portugal hoje lidera o ranking de imigrantes da Europa, evidenciando uma população que não vê perspectiva de futuro em seu próprio país.
Diante deste quadro, as sondagens apontavam para uma abstenção recorde, fato que se confirmou, quando 43% dos que estavam aptos a votar se abstiveram. Este número significativo expressa a insatisfação dos portugueses frente a um quadro político institucional onde os partidos que governam aproveitam-se da austeridade definida pela Troika para baixar salários e privatizar setores estratégicos, e o principal partido da oposição, o PS, ter sido o partido que levou a Troika a Portugal, não se comprometendo na campanha em não atacar as pensões dos aposentados.
Na esteira desta mesma insatisfação, o eleitorado português parece ter encontrado no Bloco de Esquerda a oposição alternativa a polarização entre PSD e PS, uma oposição consistente e que defenda um programa que não signifique mais ataques e mais arrocho para os trabalhadores, objetivando satisfazer os interesses de Berlim e Bruxelas.
Ao Bloco de Esquerda e ao PCP/PEV cabe agora a tarefa de resistir no parlamento aos ataques contra os direitos dos trabalhadores, das mulheres e dos LGBTs. A legislatura que se encerra nesse ano foi marcada por ataques ao direito do aborto conquistado pelas mulheres portuguesas e ao direito de adoção de casais homoafeivos. Assim, não bastará resistir no parlamento, mas tornar-se um ponto de apoio as mobilizações contra a austeridade e ao conservadorismo, sejam estes conduzidos pelo PSD/CDS ou pelos vacilos do PS.