sábado, 15 de agosto de 2015

Aldo Santos: "Compartilhando preocupações sobre a conjuntura"


Quero compartilhar com os colegas militantes, estudantes e trabalhadores em geral, as considerações que o Frei Beto esboçou em  entrevista publicada na folha de São Paulo em 9 de agosto de 2015 “Amigo da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, de quem foi assessor especial no início do mandato, Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto, já admite temer pela renúncia da mandatária, hoje com o recorde de 71% de reprovação no Datafolha."A minha pergunta íntima hoje não é o impeachment [...] É se a Dilma, pessoalmente, aguenta três anos pela frente", afirma ele. "Ou ela dá uma mudança de rota [...] ou ela pega a caneta e fala 'vou pra casa, não dou conta'. Tenho esse temor", completa. Embora avalie o período petista como "o melhor da história republicana", o frei dominicano faz severas críticas ao partido –"trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder"– e uma distinção especial ao atual mandato de Dilma: "Não sei o que de positivo a Dilma fez de janeiro para cá".Frei Betto diz que está esperando até hoje o PT se manifestar sobre a existência ou inexistência do mensalão.Com reparos, elogia a Operação Lava Jato, "extremamente positiva", e diz que se sentiu "indignado" com a notícia de que o ex-ministro José Dirceu faturou R$ 39 milhões ao mesmo tempo em que promovia uma vaquinha para pagar a multa da condenação do mensalão”.

Foi uma entrevista marcante, onde analisa vários temas de forma pontual, critica os rumos do governo e aponta para a necessidade de se construir uma nova rota, porém, não tem muitas expectativas em relação a condução do atual governo da presidenta Dilma.

Outro texto bem elucidativo é a matéria publicada no blog do Sakamoto que faz uma importante avaliação sobre o a natureza do governo Dilma, o papel da esquerda e cita a pérola de Sarney ao finalizar o mesmo.

“Mas apesar de alguns grupos dentro do PT e de poucos partidos da base aliada, o governo não é de esquerda – coisa que venho falando aqui há muitos anos. Pelo menos, não a esquerda popular que os movimentos imaginavam que seria. Remoção forçada de comunidades tradicionais em nome de uma ideia deturpada de desenvolvimento, reforma agrária e urbana praticamente inexistentes, direitos trabalhistas sendo “flexibilizados'', falta de políticas para enfrentar as mudanças climáticas, combate à concentração de riquezas – a lista é longa e qualquer pessoa que não se informe apenas pelo WhatsApp sabe disso.

A forma como o governo federal tem abraçado a Agenda Brasil proposta por Renan Calheiros, seu novo fiador, é compreensível. Afinal, é mais uma boia de salvamento – para o governo, não para a população mais pobre, que vai sofrer com boa parte das medidas lá listadas, ruins para o trabalhador, populações tradicionais e o meio ambiente. Isso, aliado à forma com a qual certas pautas nocivas à garantia dos direitos humanos têm passado no Congresso Nacional sem a resistência de outrora, novamente em nome da governabilidade, mostra que o legado da Constituição de 1988, que nunca foi implantado integralmente, segue se deteriorando a olhos vistos. Bem como algumas das conquistas sociais obtidas após a odiosa ditadura cívico-militar.

O fato é que, não só no Brasil como em muitos outros lugares, governos autointitulados progressistas têm sido fundamentais para garantir reformas conservadoras no Estado quando essas significam a retirada de direitos sociais e trabalhistas. Porque quando esses grupos estão na oposição, atuam fortemente para garantir que essas mudanças não passem nos parlamentos, atendendo à pauta da base popular que os elegeu. Mas, uma vez no poder, em nome da “governabilidade'' e da “responsabilidade'', abraçam essas mudanças “necessárias''.

O que governantes esquecem é que, para um governo, o auto-reconhecimento não basta para formação de sua identidade política. Não importa que ele se afirme progressista ou conservador e assim ser. Se não demonstrar isso com a efetivação de ações, será palavra vazia. O discurso que um governo emite para designar a si mesmo serve mais para que a sociedade entenda a estratégia que ele utiliza para manter sua base de apoio e sua legitimação frente à sociedade.

Enquanto isso, os resquícios de divisões de posicionamento político vão desaparecendo. Governo, oposição, tem diferença? Ou é tudo uma grande massa amorfa tentando se manter ou conquistar o poder?

E como disse José Sarney, líder do grupo que é aliado deste e de todos as administrações desde Martim Afonso de Souza: “Governo é como violino: você toma com a esquerda e toca com a direita”.
O mais triste é que, se esse governo sobreviver à convulsão que vive hoje, algo me diz que irá esquecer novamente da pauta tradicional dos movimentos sociais, como fez durante a campanha eleitoral, como vem fazendo há muito tempo.

A eles restará o frio do barraco de lona na beira da rodovia, o convívio com ratos em prédios ocupados em grandes cidades, o medo de ser despejado de sua terra tradicional, as condições de trabalho precarizadas em nome do progresso…” (blog do Leonardo Sakamoto  14/08/2015 )
Também foi significativo o discurso do dirigente nacional do MTST diante da presidenta Dilma, que em rápidas palavras marcou posicionamento bastante articulado, definindo o papel dos movimentos sociais, os limites de uma atuação consequente e uma critica mordaz aos rumos do governo ao tomar como base as propostas de Joaquim levy e Renan Calheiro. Acrescido a isso, o congresso votou  e vem votando a criminalização dos movimentos sociais e outras  medidas que se encontram na contra mão da história da classe trabalhadora.

Não temos dúvida que as manifestações do dia 20 de agosto representam o que tem de mais reacionário neste país, todavia, sair às ruas para apoiar esse governo é uma grande temeridade, pois segundo o próprio texto do Sakamoto “Dilma não merece o apoio que recebeu de movimentos sociais”.

Entendo que os movimentos éticos e de esquerda no campo popular, estudantil, sindical, partidário e de igrejas comprometidas com os pobres e oprimidos, deveriam estabelecer uma nova  agenda para disputar a base governista  e de partidos  carcomidos pelo desgaste da sustentabilidade, bem como se apresentar como interlocutores  de amplos setores que diante da crise em curso não tem outra alternativa senão ir as ruas para exigir mudanças, como grande setor de pobres que  irão no dia 16/8 às praças públicas. É urgente  essa possibilidade na tentativa de um deslocamento alternativo, sem ilusão e sem sectarismo. Ao participarmos no ato do dia 20, seremos mais uma  vez confundidos como apoiadores diretos ou indiretos  de todas as mazelas que este governo vem praticando com os trabalhadores ao longo de sua trajetória .

Quanto mais a crise aumenta, eles se deslocam para a direita e quando a crise está controlada, eles nos tratam como inimigos de classe.

Entendo que deveríamos reunir os descontentes com os governos e o sistema  em plenárias estaduais ou regionais para discutir esse novo formato para avançar a luta socialista, tendo por base um programa anticapitalista  e anti-imperialista.

Se correr o bicho pega!
Se ficar o bicho come!
Se unirmos o bicho foge!


Aldo Santos-Presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Brasil, membro da executiva Nacional da Intersindical-central da classe trabalhadora.
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*texto originalmente publicado no portal ABC da Luta