Quero compartilhar com os colegas militantes, estudantes e
trabalhadores em geral, as considerações que o Frei Beto esboçou em entrevista publicada na folha de São Paulo em
9 de agosto de 2015 “Amigo da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente
Lula, de quem foi assessor especial no início do mandato, Carlos Alberto
Libânio Christo, o frei Betto, já admite temer pela renúncia da mandatária,
hoje com o recorde de 71% de reprovação no Datafolha."A minha pergunta
íntima hoje não é o impeachment [...] É se a Dilma, pessoalmente, aguenta três
anos pela frente", afirma ele. "Ou ela dá uma mudança de rota [...]
ou ela pega a caneta e fala 'vou pra casa, não dou conta'. Tenho esse
temor", completa. Embora avalie o período petista como "o melhor da
história republicana", o frei dominicano faz severas críticas ao partido
–"trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder"– e uma
distinção especial ao atual mandato de Dilma: "Não sei o que de positivo a
Dilma fez de janeiro para cá".Frei Betto diz que está esperando até hoje o
PT se manifestar sobre a existência ou inexistência do mensalão.Com reparos,
elogia a Operação Lava Jato, "extremamente positiva", e diz que se
sentiu "indignado" com a notícia de que o ex-ministro José Dirceu
faturou R$ 39 milhões ao mesmo tempo em que promovia uma vaquinha para pagar a
multa da condenação do mensalão”.
Foi uma entrevista marcante, onde analisa vários temas de
forma pontual, critica os rumos do governo e aponta para a necessidade de se
construir uma nova rota, porém, não tem muitas expectativas em relação a
condução do atual governo da presidenta Dilma.
Outro texto bem
elucidativo é a matéria publicada no blog do Sakamoto que faz uma importante
avaliação sobre o a natureza do governo Dilma, o papel da esquerda e cita a
pérola de Sarney ao finalizar o mesmo.
“Mas apesar de alguns grupos dentro do PT e de poucos
partidos da base aliada, o governo não é de esquerda – coisa que venho falando
aqui há muitos anos. Pelo menos, não a esquerda popular que os movimentos
imaginavam que seria. Remoção forçada de comunidades tradicionais em nome de
uma ideia deturpada de desenvolvimento, reforma agrária e urbana praticamente
inexistentes, direitos trabalhistas sendo “flexibilizados'', falta de políticas
para enfrentar as mudanças climáticas, combate à concentração de riquezas – a
lista é longa e qualquer pessoa que não se informe apenas pelo WhatsApp sabe
disso.
A forma como o governo federal tem abraçado a Agenda Brasil
proposta por Renan Calheiros, seu novo fiador, é compreensível. Afinal, é mais
uma boia de salvamento – para o governo, não para a população mais pobre, que
vai sofrer com boa parte das medidas lá listadas, ruins para o trabalhador,
populações tradicionais e o meio ambiente. Isso, aliado à forma com a qual
certas pautas nocivas à garantia dos direitos humanos têm passado no Congresso
Nacional sem a resistência de outrora, novamente em nome da governabilidade,
mostra que o legado da Constituição de 1988, que nunca foi implantado
integralmente, segue se deteriorando a olhos vistos. Bem como algumas das
conquistas sociais obtidas após a odiosa ditadura cívico-militar.
O fato é que, não só no Brasil como em muitos outros
lugares, governos autointitulados progressistas têm sido fundamentais para
garantir reformas conservadoras no Estado quando essas significam a retirada de
direitos sociais e trabalhistas. Porque quando esses grupos estão na oposição,
atuam fortemente para garantir que essas mudanças não passem nos parlamentos,
atendendo à pauta da base popular que os elegeu. Mas, uma vez no poder, em nome
da “governabilidade'' e da “responsabilidade'', abraçam essas mudanças
“necessárias''.
O que governantes esquecem é que, para um governo, o
auto-reconhecimento não basta para formação de sua identidade política. Não
importa que ele se afirme progressista ou conservador e assim ser. Se não
demonstrar isso com a efetivação de ações, será palavra vazia. O discurso que
um governo emite para designar a si mesmo serve mais para que a sociedade
entenda a estratégia que ele utiliza para manter sua base de apoio e sua
legitimação frente à sociedade.
Enquanto isso, os resquícios de divisões de posicionamento
político vão desaparecendo. Governo, oposição, tem diferença? Ou é tudo uma
grande massa amorfa tentando se manter ou conquistar o poder?
E como disse José Sarney, líder do grupo que é aliado deste
e de todos as administrações desde Martim Afonso de Souza: “Governo é como
violino: você toma com a esquerda e toca com a direita”.
O mais triste é que, se esse governo sobreviver à convulsão
que vive hoje, algo me diz que irá esquecer novamente da pauta tradicional dos
movimentos sociais, como fez durante a campanha eleitoral, como vem fazendo há
muito tempo.
A eles restará o frio do barraco de lona na beira da
rodovia, o convívio com ratos em prédios ocupados em grandes cidades, o medo de
ser despejado de sua terra tradicional, as condições de trabalho precarizadas
em nome do progresso…” (blog do Leonardo Sakamoto 14/08/2015 )
Também foi significativo o discurso do dirigente nacional do
MTST diante da presidenta Dilma, que em rápidas palavras marcou posicionamento
bastante articulado, definindo o papel dos movimentos sociais, os limites de
uma atuação consequente e uma critica mordaz aos rumos do governo ao tomar como
base as propostas de Joaquim levy e Renan Calheiro. Acrescido a isso, o
congresso votou e vem votando a
criminalização dos movimentos sociais e outras
medidas que se encontram na contra mão da história da classe
trabalhadora.
Não temos dúvida que as manifestações do dia 20 de agosto
representam o que tem de mais reacionário neste país, todavia, sair às ruas
para apoiar esse governo é uma grande temeridade, pois segundo o próprio texto
do Sakamoto “Dilma não merece o apoio que recebeu de movimentos sociais”.
Entendo que os movimentos éticos e de esquerda no campo
popular, estudantil, sindical, partidário e de igrejas comprometidas com os
pobres e oprimidos, deveriam estabelecer uma nova agenda para disputar a base governista e de partidos
carcomidos pelo desgaste da sustentabilidade, bem como se apresentar
como interlocutores de amplos setores
que diante da crise em curso não tem outra alternativa senão ir as ruas para
exigir mudanças, como grande setor de pobres que irão no dia 16/8 às praças públicas. É
urgente essa possibilidade na tentativa
de um deslocamento alternativo, sem ilusão e sem sectarismo. Ao participarmos
no ato do dia 20, seremos mais uma vez
confundidos como apoiadores diretos ou indiretos de todas as mazelas que este governo vem
praticando com os trabalhadores ao longo de sua trajetória .
Quanto mais a crise aumenta, eles se deslocam para a direita
e quando a crise está controlada, eles nos tratam como inimigos de classe.
Entendo que deveríamos reunir os descontentes com os
governos e o sistema em plenárias
estaduais ou regionais para discutir esse novo formato para avançar a luta
socialista, tendo por base um programa anticapitalista e anti-imperialista.
Se correr o bicho
pega!
Se ficar o bicho come!
Se unirmos o bicho foge!
Aldo Santos-Presidente da Associação dos professores de
filosofia e filósofos do Brasil, membro da executiva Nacional da
Intersindical-central da classe trabalhadora.
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*texto originalmente publicado no portal ABC da Luta